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CRIME SEM SAÍDA | Chadwick Boseman encarna policial herói dos anos 90 (Crítica)

“Ele é um vingador”, entoa um padre no começo do filme de estreia do diretor de Game of Thrones, Brian Kirk. É difícil não rir da piada de duplo sentido com o protagonista do filme que é estrelado justamente por Chadwick Boseman – também conhecido como Pantera Negra – em seu primeiro projeto pós-Vingadores.

Enquanto você espera alguém estalar os dedos e fazer desaparecer metade dos habitantes da cidade que não dorme, um assalto atrapalhado acontece com dois bandidos. O detetive da polícia de Nova York, Andre Davis (Boseman), está liderando uma caça aos bandidos que mataram oito policiais. Neste enredo, Boseman consegue emprestar uma qualidade cavalheiresca ao seu detetive, mesmo ele se agarrando obstinadamente ao que é certo em um mundo que deu errado. É o tipo de papel que muitos bons atores costumavam interpretar entre as décadas de 80 e 90 em uma cidade ocidental mais suja e empoeirada do que a Nova York que é retratada neste longa.

Taylor Kitsch e Stephan James em cena do filme ‘Crime Sem Saída’ – Galeria Distribuidora

Explorando a memória afetiva, o longa tenta emplacar novamente os famosos thrillers policiais das últimas décadas e Crime Sem Saída acerta em quase todos os elementos-chave de um bom filme deste velho gênero. Assalto de alto risco, perseguições de carros e uma trama que te faz adivinhar com seu tema que acaba se ligando em ressonância com a atual política em que vivemos. Policiais brancos disparam contra homens negros desarmados, e a trama toca na brutalidade policial e no racismo sistemático.

Como Pantera Negra, Boseman é um herói emblemático, já aqui ele é um herói com distintivo e arma, que olha o diabo nos olhos e encara o mal do sistema. É um caminho inteligente a seguir para um ator que de repente se tornou extremamente famoso, mas que luta em querer ganhar mais notoriedade em Hollywood com papéis diferentes. Mas bem que ele poderia ter largado o osso e não ter se apoiado justamente em um filme que conta com a produção de Anthony e Joe Russo, de Vingadores Ultimato. Por sorte, a única relação deste longa com o seu papel na Marvel é ser um policial herói que vive em seu próprio universo e a produção acaba se baseando na fórmula mais básica dos tradicionais filmes policiais dos anos 90, onde temos uma revelação maciça que nos revela que alguns policiais estão envolvidos em negócios obscuros com drogas.

Ainda assim, apesar das reviravoltas dolorosamente óbvias da história, Crime Sem Saída tem um rigor que fala mais da competência de seu diretor e da força de seu elenco do que da originalidade ou ingenuidade do roteiro. Brian Kirk, conhecido por seus trabalhos gigantes na televisão como Game of Thrones, Luther e Boardwalk Empire, é capaz de manter a história em ritmo acelerado e usa a arquitetura da cidade para realmente levar para casa a escala operística da história.

Chadwick Boseman. Siena Miller e JK Simmons em cena do filme ‘Crime Sem Saída’ – Galeria Distribuidora

Enquanto isso, Chadwick Boseman acaba canalizando o ator Denzel Washington em seu auge ao transmitir grande intensidade que se tornou uma grande característica do astro em seu auge nos anos 90. Aqui todos os monólogos e caminhos envolvendo a polícia dão força para um bom antagonismo com os atores Stephan James e Taylor Kitsch, enquanto os criminosos acabam sendo perseguidos e vão se aprofundando em algo maior para não serem capturados. Sienna Miller, no entanto, dá uma guinada não convincente atuando como uma detetive da narcóticos que está empenhada em ‘ajudar’ Boseman, enquanto JK Simmons e Keith David – dois excelentes atores – acabam tendo seus personagens dolorosamente subutilizados no script.

No geral, Crime Sem Saída é bem feito, é divertido e faz você se familiarizar com bons sucessos dos anos 90, uma pena que o longa caí no senso do óbvio ao querer resolver as coisas de forma rápida na sua história que fica bem clara no seu segundo ato. Mesmo assim, Chadwick Boseman não decepciona e o elenco consegue sustentar as inconsistências da trama que não tem vergonha de mostrar uma linguagem de rua com fortes cenas de violência, o que acaba sendo bem comum em um filme policial que retrata a redenção moral do protagonista na história ao resolver de forma brilhante o grande caso do dia, o que era bem comum nos antigos bons thrillers de ação.


Trailer:

https://youtu.be/XOqSt1bJfvo

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