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DOIS PAPAS | O transcendente conflito de cultura e visão entre os Papas (Crítica)

Em meio ao escândalo da renúncia em 2013 do Papa Bento XVI, que deixa o cargo de líder da Igreja Católica,  a nova produção original da Netflix mostra um fato real que chocou o mundo, afinal o último Papa que renunciou o cargo divino foi Gregório XII, em 1415.

A decisão, segundo o próprio Bento, viria das dificuldades de reger o cargo com suas enfermidades e idade avançada, sem contar o marco de diversas polêmicas, entre elas a postura mais conservadora adotada pela igreja que muitos sentiram que aceleraria o afastamento de fiéis, e os escândalos de pedofilia cometidos por membros da igreja cujo, procedimento para lidar com o problema foi altamente criticado.

Na sequência entrou o Papa Francisco, considerado o mais progressivo e disposto cardeal em ajudar a igreja a se modernizar e ser uma presença mais relevante em um mundo mais complexo. Sendo assim, o filme da Netflix sobre os “Dois Papas” não passa de um enorme diálogo entre os atores Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.

O filme de princípio até pode parecer pesado e cansativo, mas não se deixe levar pelo enredo. No fundo, Dois Papas é um filme elegante e humano, parte pela atuação primorosa de seus protagonistas e também pelas excelentes sacadas da direção de Fernando Meirelles, que traz um estilo bastante divertido para o futuro Papa Francisco que contrasta de formas fascinantes com o Papa Bento XVI.

Ambos foram candidatos ao Papado no conclave que sucedeu a morte de João Paulo II, mas Joseph Ratzinger (Anthony Hopkins) foi o escolhido e assumiu o manto de Papa Bento XVI. Alguns anos depois, durante escândalos José Bergoglio, futuro Papa Francisco, interpretado por Jonathan Pryce, envia cartas a Bento pedindo que ele autorize sua resignação da igreja. Bergoglio está desiludido com o rumo que a igreja tomou.

Como bom latino americano, ele procura resolver as coisas indo viajar até Roma e confrontar o Papa pessoalmente. Por coincidência, ele recebe uma carta de Bento convidando-o pra ir até a capital italiana. O encontro dos dois é tenso. Bento com sua postura mais conservadora tem interesse por música clássica e sua liturgia tradicional encara Bergoglio que adora futebol, música popular e conta piadas como um alienígena. A visão de ambos para a igreja gera atritos e Bento proíbe José de renunciar pois, para o mundo, a renúncia do cardeal seria interpretada como uma crítica e um protesto ao Vaticano.

Com o encontro dos dois e muita conversa, a tensão vai se dissipando e ambos vão se conhecendo melhor. José Bergoglio compartilha de seu passado como padre jesuíta durante a ditadura militar Argentina na década de 70, seus erros, suas perdas e sua penitência pessoal por não ter feito mais para proteger as pessoas na época é transmitido de forma pura em uma bela atuação Pryce.

O legal deste encontro são as diferenças deles, pois um gosta de futebol e Beatles, o outro de música clássica. Um cresceu recluso nos estudos litúrgicos europeus, o outro jogando bola nas favelas da Argentina. Não sei se um diretor norte-americano ou europeu talvez não teria a visão para pegar pequenos momentos onde o contraste de personalidades cria cenas divertidas que, além de arrancar risadas, ilustram muito bem os desafios de modernização que a igreja enfrenta.

A ideia deste roteiro que é passada pode afastar ainda mais quem não tem interesse na igreja católica, sugiro que tenha uma mente aberta, pois o filme da nossa Netflix, “Dois Papas” não se trata de um filme sobre religião, mas sim sobre um episódio fascinante entre dois homens que se estranham desde o começo, mas se tornam amigos pelas diferenças. E o mais legal é que nesta amizade não tem só a fé católica, mas como qualquer outro cristão foi radicalmente impactada.

Dois Papas está disponível na Netflix, então não deixe de conferir.


Trailer:

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