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OKJA | A fábula realista da Netflix (Crítica)

É incrível quando você irá trabalhar em um projeto que tenha como tema principal o capitalismo e o seu capital para financiar o seu filme é bem modesto. Diante desta premissa e com uma história bem contada, o polêmico Okja, filme produzido pela Netflix e que, causou grandes burburinhos no Festival Cannes em 2017, está disponível para o publico acompanhar no streaming.

A poética fábula realista da Netflix é comandada pelo sul coreano Bong Joon Ho  (O Hospedeiro e Expresso do Amanhã, Parasita), que mistura de forma elementar o visual do interior do seu país natal com a asquerosa e agitada vida no Ocidente. Bong trabalha bem a fotografia do filme e consegue transmitir com naturalidade o encantador porco que sofreu mutação, inicialmente, o baixo orçamento pode incomodar, mas com o ambiente tropical em que o personagem é apresentado, o espectador consegue se acostumar e a entender o início calmo e sem palavras em uma pequena fazenda na Coreia do Sul.

 A mensagem que Bong quer passar é transmitida sem pressa, o diretor usa a simplicidade do cotidiano e a visão capitalista para acelerar o filme para outra esfera, essa degustação começa a ficar eloquente quando temos os choques de cultura entre a atuação proposital e canastrona do brilhante Jake Gyllenhaal e da incrível Ahn Seo-Hyun, que transmite o lado puro em um mundo tão cruel.

Okja / Netflix (Foto divulgação)

Esse choque de cultura pode seguir um velho e gostoso clichê em que Hollywood adora nos passar, mas Bong não liga em usar o simples para transmitir a sua verdadeira mensagem, o lado sujo com “behind the scenes” da indústria de alimentos. Se por um lado, temos a indústria de alimentos, utilizando de experiências genéticas e maus-tratos aos animais para aumentar alguns números no lucro final, temos do outro, a população comemorando e participando do lançamento da “nova carne” e se divertindo com o circo criado pelo marketing. A mensagem de Bong acaba se transformando em não só uma, mas em duas ou três palavras fortes e importantes, isso se encaixa como uma paródia que tem como um dos focos, mostrar a hipocrisia que há em todas as camadas da nossa sociedade.

Literalmente, Okja é um tapa na cara dos carnívoros, especialmente em um país como os EUA que consomem de forma exagerada todos os tipos de carne e que nem por um momento, a grande maioria das pessoas se questiona quanto à origem da carne e seus efeitos. Se falta a sensibilidade de se importar com o tratamento ao animal, que fiquem atentos ao menos aos efeitos futuros que alimentos transgênicos, ou qualquer outro tipo de resultado laboratorial possa fazer com o ser humano, eis o surgimento do segundo objetivo do filme.

Mas não importa se sabemos de algo, afinal, o que não vemos, não nos incomoda. Há um diálogo que resume bem a intenção das mensagens de Bong no filme:

“Não sei como os consumidores reagirão depois de hoje” – “Se for barato, vão comer”.

Confesso que eu adoro carne e continuo comendo, pois a mensagem do filme não é passar ao espectador para que ele se torne um vegetariano, e sim, que ele reflita e conheça em larga escala esse lado podre da indústria e como o “delicioso pedaço de carne” chega à sua mesa.

Okja / Netflix (Foto divulgação)

Além disso, o produto final acaba fugindo completamente das “regras” de Hollywood, o que o torna ainda mais incrível! O filme mostra além de crueldade (algo que percebemos com a atuação da brilhante Tilda Swinton), temos a empatia pelo correto (transmitido em uma boa atuação vívida por Paul Dano), que é a ultima pura mensagem que o diretor define para as pessoas.

Uma jornada apaixonante, realista e reflexiva, Okja é um filme importante e que poderá (e deverá) ser usado como parâmetro para o futuro pessimista que o nosso planeta irá viver.


Sinopse: 

A trama acompanhará Mija, uma jovem garota que deve arriscar tudo para evitar que uma poderosa empresa multinacional de sequestrar sua melhor amiga: um animal enorme chamado de Okja.

Elenco: Tilda Swinton, Paul Dano, Ahn Seo-hyun, Lily Collins, Steven Yeun, Devon Bostick, Giancarlo Esposito e Jake Gyllenhaal.

Direção: Bong Joon Ho

Trailer:

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