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SEM RESSENTIMENTOS | Festejando com muita dor (Crítica) - 44° Mostra SP

Fazendo sua estreia como diretor de cinema, Faraz Shariat mostra bom talento em Sem Ressentimentos (No Hard Feelings/Future Drei), o jovem cineasta de 25 anos se inspirou nele mesmo para fazer o filme depois de ser pego furtando um suéter Givenchy e tendo que prestar serviço comunitário em um lar de refugiados no auge da crise de refugiados na Alemanha em 2015. A história se desenrola com um garoto que está em uma danceteria alemã, Parvis (que é baseado no próprio Faraz) conhece um irmão e uma irmã iranianos que buscam asilo na Alemanha. 

Cena do filme Sem Ressentimentos (No Hard Feelings/Future Drei) – Foto: Divulgação

Quando as minorias e especialmente os refugiados, são representados na mídia, geralmente é como vítimas ou vilões, mas para Faraz Shariat, que escreveu o filme ao lado de Paulina Lorenz, era importante olhar além dos estereótipos para contar uma história acessível sobre personagens realistas e o filme conscientemente não enfoca nesses clichês, como por exemplo o porquê dos irmãos refugiados fugiram do Irã. Em vez disso, ele explora quem eles são e o que eles querem da vida agora e como sua situação faz Parvis reexaminar o que seus pais passaram vindo para a Alemanha após a Revolução Iraniana em 1979.

Mesmo sendo um cidadão alemão nascido e criado na Alemanha, Shariat frequentemente descobre que as conversas são muito focadas onde ele realmente é. Uma das maneiras como o filme mantém as histórias enraizadas no presente é o uso intenso da cultura pop e um estilo de filmagem fortemente influenciado pela experiência de Faraz Shariat em fazer videoclipes que são menos sobre drama e mais sobre atmosfera. 

Cena do filme Sem Ressentimentos (No Hard Feelings/Future Drei) – Foto: Divulgação

Parte do que torna o filme tão interessante é que ele se recusa a se limitar a um único assunto. Enquanto as atitudes em relação à imigração estão na vanguarda da história, também estão as questões de classe e comentários sobre gênero e sexualidade. Embora a mídia muitas vezes possa isolar esses tópicos, na vida real os eixos se cruzam. Ainda assim, encontrar o equilíbrio não é fácil. Raquel Molt, que fez o casting para o longa, levou três anos para encontrar os atores principais, procurando em lares de refugiados, casas de refugiados queer, escolas de atuação e em castings de rua. 

Outro ponto que a equipe não quis se comprometer é ter mais da metade do diálogo em persa. Apesar do recente sucesso internacional de Parasita fora da Coréia, as legendas ainda podem ser uma barreira para o público americano e europeu. A equipe escolheu representar honestamente a mudança entre as línguas com as quais muitas crianças bi culturais estão familiarizadas, mudando perfeitamente do alemão para o persa.

Cena do filme Sem Ressentimentos (No Hard Feelings/Future Drei) – Foto: Divulgação

No geral, Sem Ressentimentos (No Hard Feelings/Future Drei) é um ótimo cartão de visita para Shariat, que é claramente voltado para o futuro. Vai ser interessante aonde ele vai com seus próximos filmes e se ele continuará lidando com questões de clara importância pessoal ou se sentirá como se essa narrativa em particular tivesse se exaurido. Qualquer que seja a decisão dele, certamente chamará a atenção.

*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/


Trailer: 

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