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WALDEN | O amor e as memórias de um casal jovem em um lago (Crítica) - 44° Mostra SP

Ter um grande amor onde você vive lembrando desta pessoa em frente de um belo lago é algo bastante rotineiro na sétima arte e partindo de pretexto temos Walden, longa da diretora tcheca Bojena Horackova que tenta explorar romance, traumas em um filme de sentimento discreto, mas que falta química entre os personagens em uma narrativa fragmentada que acaba deixando o espectador a mercê de algo mais.

Cena do filme Walden – Foto: Divulgação

A determinação de Horackova de manter tudo mesclado com sentimentos, sensações, reações é intrigante e naturalista, mas a ambiguidade do protagonista, vívido por Fabienne Babe, nos mantém à distância, tanto da adolescente retratada no início de 1989 na Lituânia e pouco antes do colapso do comunismo, e também como uma adulta voltando para casa após décadas no exílio.

Na trama, depois de 30 anos de exílio em Paris, Jana viaja de volta a Vilnius, capital da Lituânia. Ela quer ver novamente o lago que Paulius, seu primeiro amor, chamava de Walden. O filme vai e volta entre períodos do tempo, alternando com cenas de 1989 e outras mais breves do retorno de Jana à Lituânia, quando ela está dirigindo com o amigo polonês Jakub para reencontrar o lago onde ela e Paulius foram há tantos verões atrás. Já sabemos que as coisas não deram certo e o filme começa com uma conversa na tela preta na qual é mencionado que Paulius tinha estado na prisão e então esta é a oferta de Jana para se reconectar com seu passado emocional sem a responsabilidade de falar com a pessoa que participou daquele momento especial. 

Ao definir o filme em um país que não é o dela, Horackova não sai da mesmice em explorar a conexão de Jana com o lago. Aqui pelo menos o longa consegue ter êxito transmitir a forte conexão entre um lugar imaginado e um real, preenchendo o espaço liminar entre os dois com um sentimento sobre como poderia ter sido o futuro da protagonista. E justamente em apontar pouco disso que fica uma das principais frustrações do filme, a maneira como parece estabelecer um contraste de atitudes entre o otimismo cauteloso para um futuro pós-comunista e a desconfiança cansada na possibilidade de mudança. 

Cena do filme Walden – Foto: Divulgação

O roteiro brinca com esse fato justamente quando Jakub (Andrzej Chyra) diz para que o mais triste é ver pessoas que no passado, colocaram sua esperança no futuro e agora estão colocando sua esperança no passado. É uma linha bastante cativante, mas em todo o seu enredo o longa falha em neutralizar a vida interior da Jana mais jovem ao explorar de forma bastante superficial, o que no geral deixa o fechamento romântico bastante vazio.

*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/

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