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VIÚVA NEGRA | Crítica do filme

Viúva Negra pode ser considerado um filme de super-herói, mas a Viúva Negra não é uma super-heroína típica. Natasha Romanoff, a espiã que se tornou a Vingadora interpretada por Scarlett Johansson, é singular quando se trata de heroínas dos quadrinhos. Ela não tem poderes especiais, apenas uma autoconfiança e compaixão desenvolvida por ter escapado de um programa opressor que tentou transformá-la em uma máquina. Ela não é uma personagem inspiradora como a Capitã Marvel ou a Mulher Maravilha, nem é a versão invertida de gênero de um personagem masculino popular como a Supergirl ou a Batwoman. Por ser diferente e por medo de dar certo ou errado, a Marvel colocou Johansson e sua personagem na geladeira de adaptações solo e fizeram com que todos esperassem pacientemente para que chegasse a vez da popular personagem estrelar um filme independente, o que acaba sendo uma espera frustrante pelo o que sabemos o que aconteceu com a personagem, que agora está morta e também sobre o que o longa solo apresentou no geral.

Vale lembrar que a produção é o primeiro filme da Marvel Studios a ser lançado nos cinemas em mais de dois anos e o longa funciona como uma prequel para uma nova Viúva Negra, ou novas, especialmente pelo o que é apresentado. Ambientado após os eventos de Capitão América: Guerra Civil, o filme segue Natasha enquanto ela se reúne com sua espécie de irmã adotiva, Yelena (Florence Pugh). As duas formam um par incrível e são muito divertidas de assistir ao embarcarem em uma missão para destruir a Sala Vermelha, um programa russo que faz lavagem cerebral em mulheres para que elas se tornem assassinas e Natasha tinha pensado que ela tinha desmantelado o programa anos atrás, antes de se tornar uma Vingadora. Para terminar esse negócio inacabado, elas se reúnem com seus “pais”, David Harbour e Rachel Weisz, que são divertidos acréscimos à lista, entregando mais humor leve do que qualquer coisa e são espiões russos que criaram Natasha e sua irmã.

Viúva Negra (Black Widow) / Marvel Studios & Walt Disney Pictures – Foto: Divulgação

Em muitos aspectos, Viúva Negra é um drama que enfoca a culpa de Natasha por ter saído da Rússia e ter abandonado sua família e se reinventado. É uma tragédia e um retrato adequado de uma crise de identidade. Qualquer filme sobre Natasha deve explorar a relação entre seu presente heroico e seu passado violento e como as habilidades que ela cultivou como assassina desempenham um papel em ambos. Portanto, faz sentido quando um vilão chamado Treinador aparece. O capataz é um humano com capacete altamente habilidoso com a capacidade de imitar qualquer movimento à vista, o que significa que quando Natasha encontra o personagem, ela está essencialmente lutando contra sua imagem no espelho. As brigas entre Natasha e Treinador são apropriadamente sangrentas e brutais, parecendo mais com cenas de outros filmes do que algo feito pela Marvel.

Mas temos que lembrar que esta é uma produção da Marvel, e o que à primeira vista parece ser um filme de espionagem segue simplesmente o que a Marvel costuma fazer, apresentar novos personagens com boas cenas de ação em um blockbuster razoável. Mas para justificar a existência da produção  como uma entrada na última fase de projetos da franquia, Viúva Negra vira os holofotes de Natasha para Yelena, preparando-a para seu retorno em histórias futuras, incluindo a série do Gavião Arqueiro no Disney+. Para suavizar a tragédia das origens de Natasha temos um roteiro simples que emula outros filmes da Marvel e colocam o cartunesco Dreykov (Ray Winstone), como um vilão que pretende levar o programa Sala Vermelha para o mundo, doutrinando tantas meninas quanto possível, porque ele acredita que elas são um recurso natural do qual o mundo tem muito.

Fazer com que Dreykov seja o principal rival de Natasha, sem ser o Treinador deixa tudo broxante e os fãs dos quadrinhos da Marvel que conhecem bem o personagem vão ficar chateados. Este personagem icônico tinha o potencial de trabalhar com a mensagem feminista inesperadamente sutil e eficaz que o filme oferece, mas eles fizeram algo confuso no terceiro ato. Não há como defender o quão bizarra é a reviravolta com esse personagem e isso só ficou mais burro quanto mais tempo progredia na tela.

Viúva Negra (Black Widow) / Marvel Studios & Walt Disney Pictures – Foto: Divulgação

Já que o filme desperdiça seus potenciais e prefere escolher caminhos questionáveis, colocar uma mulher derrubando um machista que odeia mulheres acaba sendo uma decisão preguiçosa, o que deixa as discussões íntimas e pungentes de Natasha com Yelena sobre sua busca compartilhada por propósito e controle de forma praticamente esquecida, sendo substituídas por cenas frenéticas de sua família correndo para destruir a aeronave flutuante de Dreykov.

O filme deixa de ser sobre Natasha lutando contra seu heroísmo ao colocá-la contra um misógino enfurecido e simplifica a personagem apenas como um ícone feminista pop. Esqueça o passado de Natasha, o filme parece dizer, pois agora o futuro é de mulheres poderosas e isso se torna totalmente jogado e sem rumo. Parece que o filme foi escrito e reescrito por muitas pessoas sem conexão a personagem e as mudanças de ritmo são percebidas no meio do caminho, fazendo com que a Marvel tivesse medo de estragar ou insultar o seu público, o que acaba sendo um tiro pela culatra, pois o filme é totalmente inconsistente o que torna tudo muito superficial e esquecível.

É verdade que a Marvel prefere não manchar as imagens de seus heróis que já partiram. Tony Stark foi um aproveitador da guerra, mas ele permanece no MCU como um mártir intocável, aparecendo como uma figura quase cristã em Homem-Aranha: Longe de Casa . O título de Capitão América ficou complicado em Falcão e o Soldado Invernal , mas o programa nunca culpa Steve Rogers pelos fracassos do governo. Ainda assim, as conclusões desses filmes parecem satisfatórias e merecidas, mas com Natasha sempre tivemos a visão de uma personagem coadjuvante que foi sendo apresentada aos poucos e se a Marvel quisesse realmente ter mostrado algo dela em uma história solo, deveria ter feito isso na fase 2 do MCU.

O confuso terceiro ato e sua insistência em tornar Natasha infalível, não estragam tanto o filme. Mas isso faz da Viúva Negra uma oportunidade perdida, aqui Natasha nunca pode fazer escolhas que poderiam ajudá-la a completar ou mostrar o porquê ela se tornou uma personagem incrível no MCU e dado como sua história termina, não há mais chances de ela nos contar o resto.

Viúva Negra (Black Widow) / Marvel Studios & Walt Disney Pictures – Foto: Divulgação

No geral, Viúva Negra se torna um projeto vazio, com cenas costumeiras de algo que já vimos várias e várias vezes no extenso Universo Marvel nos cinemas, esse conjunto de retalhos não é nada original e faz nos lembrar que além da pandemia, que atrapalhou o lançamento do filme, o planejamento e a falta de coragem de Kevin Feige e companhia fizeram com que Viúva Negra se tornasse um filme atrasado em seu tempo, a apresentação desta boa personagem acabou sendo uma oportunidade totalmente fora de contexto, uma pena, pois a ideia como filme tinha um potencial incrível e o projeto acabou se tornando somente mais um filme no MCU.

Sinopse:

Ao nascer, a Viúva Negra, então conhecida como Natasha Romanoff, é entregue à KGB, que a prepara para se tornar sua agente suprema. Porém, o seu próprio governo tenta matá-la quando a União Soviética se desfaz.

Trailer:

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