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Crítica do filme A Noiva (46º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)




O experiente documentarista luso-brasileiro Sérgio Tréfaut (co-fundador do festival DocLisboa), faz sucesso em Portugal por explorar temas lusitanos e europeus, agora em seu novo longa chamado A Noiva, Tréfaut usa experiência ocasional com um material histórico ou político e em apenas 81 minutos nos apresenta um híbrido de docuficção extremamente realista e integrante.

A Noiva causa bastante comoção devido ao tema ardente e à aparente frieza com que a figura da protagonista é retratada, uma francesa de vinte anos que fugiu do Ocidente junto com seu companheiro terrorista, morto no Iraque após um ataque, é forçada a viver em um campo de prisioneiros, acusada de compartilhar e ser parte ativa da causa dos extremistas.

Eles perguntam se ela quer se despedir dele, mas ela se recusa. Em vez disso, ela não desiste de participar da execução, enquanto uma lágrima escorre lentamente por sua bochecha. A cena em questão demonstra como Tréfaut define o seu longa, mostrar uma pessoa que teve seu coração está petrificado, mas que ainda tem seu sentimento marcado por uma solidariedade inalterada do propósito em que se colocou, tudo bem que que a circunstância em que ela está exposta se relaciona com a eventualidade de ser condenada como terrorista, mas o terror autoimposto faz com que a protagonista continue forte em lutar por suas convicções e filhos.

Esse momento até é escancarado com os olhos chocados da sogra (interpretada pela conhecida atriz ibérica Lola Duenas), que chegou ao local para recolher os restos mortais de seu filho executado. Fora ainda que o filme de Sérgio Tréfaut, que conscientemente renuncia a qualquer tentação narrativa sensacionalista ou pura, inspirando-se na condição real em que as jovens noivas europeias têm vindo a ser encontradas convencidas por colegas terroristas a segui-las para aderir à causa jihadista.

O resultado é uma narração áspera e seca, que não dá atenção a nenhum indício de justificação sentimental, mas coloca a protagonista em uma posição de orgulho desapego daqueles que até implorando lhe pedem uma explicação de como ela pode ser encontrada em uma situação tão extremo, com crianças expostas a perigos em um território dilacerado por uma guerra de cultura e religião que parece não ter trégua.

Uma longa jornada de documentação é a base de um filme que vê o diretor muito familiarizado com a questão da guerra civil que assola uma das áreas mais quentes e desastrosas do planeta. Outro destaque vai para a jovem protagonista interpretada por Joana Bernardo, que consegue apenas com a força do seu olhar comunicar um desespero que parece assolá-la, mas não a tira do orgulho que a levou a embarcar num percurso de vida dedicado ao martírio físico e moral.

No geral, A Noiva nos mostra uma mulher que luta por amor, mas que é orgulhosa a ponto de não ficar muito chateada e nem ao menos arrependida do caminho que ela decidiu seguir e é justamente nesse retrato áspero e tão pouco poético que reside a força mais genuína do filme. 

Filme assistido na 46º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.*

Nota: 3,5/5
Trailer:


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