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AS GOLPISTAS | Uma "Grande Aposta" com mulheres poderosas! (Critica)

Em um mundo idealizado, “As Golpistas” poderia ser um filme com um enredo que explora saĂ­das fĂĄceis na histĂłria, onde vemos dançarinas exĂłticas que acabam tendo seus belos corpos femininos mercantilizados por uma indĂșstria suja que explora clubes noturnos em um sistema com muitas drogas e dinheiro e que no final elas acabam se vingando de toda essa exploração com maneirismos convincentes nos quais Hollywood estĂĄ cansado de nos mostrar. Mas por sorte, a inteligĂȘncia do roteiro e direção de Lorene Scafaria Ă© mais sutil do que isso.

Em um ritmo frenĂ©tico e belo, o longa se inicia com uma amizade complicada e em constante evolução entre duas mulheres cujo relacionamento estĂĄ sempre em fluxo e cujo filme supera todas as expectativas. NĂŁo apenas esse recurso perspicaz e habilmente trabalhado evita as armadilhas Ăłbvias do olhar masculino inerente a uma premissa de que as strippers retiram dinheiro dos grandes engravatados de Wall Street, mas tambĂ©m Ă© um thriller excelente e, facilmente, o melhor drama policial de 2019.

Constance Wu e Jennifer Lopez em cena do filme “As Golpistas” / Diamond Films

Sendo livremente baseado no artigo “The Hustlers at Scores”, da jornalista Jessica Pressler, publicado em 2016 pela revista New York Magazine. “As Golpistas” fornece um relato robusto e vertiginoso de como um grupo de strippers estabeleceu uma quadrilha criminosa onde drogavam ricaços de Wall Street para fazerem com que gastassem milhares de dĂłlares por noite em um clube que daria uma porcentagem Ă s mulheres empreendedoras. Mas alĂ©m dos detalhes sĂłrdidos, Scafaria lança sua aventura como uma narrativa sobre mulheres que sĂŁo literalmente objetivadas, completas com quantias em dĂłlares e que encontraram uma maneira de perturbar agressivamente o mercado com o mĂĄximo de engenhosidade.

O longa se passa entre 2007 a 2014 e nessa Ă©poca muitos ricaços viviam em uma bolha onde gastar dinheiro em boates quase todas as noites era algo bastante normal. Mas como vivemos no mundo real, a bolha se estourou e tivemos inĂ­cio da fatĂ­dica crise econĂŽmica em 2008 e com os engravatados de Wall Street sem grana, as strippers logicamente sofrem com a falta de manda demanda e assim Destiny e boa parte das meninas do clube sĂŁo demitidas. Alguns anos depois Destiny vira uma mĂŁe solteira, sustentando-se atravĂ©s de empregos com salĂĄrio mĂ­nimo e enfrentando a perspectiva de dançar para clientes que esperam favores sexuais. Por isso, ela mal hesita quando Ramona volta Ă  sua vida com um perigoso novo esquema e com um novo feudo formado por Mercedes (Keke Palmer) e Annabelle (Lili Reinhart), que caĂ­ de paraquedas na histĂłria e no segundo ato do filme, que estĂĄ pronto para colocar o novo plano em ação ao lado.

Constance Wu, Jennifer Lopez, Keke Palmer e Lili Reinhart em “As Golpistas” / Diamond Films

O mais interessante Ă© que o filme deixa claro que tudo vai acabar mal, pois a narrativa acontece em 2014 e a personagem de Constance Wu começa a revelar os fatos de um jeito cadenciado, o que encaixa “As Golpistas” em uma parĂĄbola criminosa clĂĄssica, onde o pĂșblico Ă© convidado a torcer pelos delitos do lado “errado” da lei, o que fica especialmente fĂĄcil nas mĂŁos de Scafaria. 

Houve muitos filmes de Wall Street que incluem strippers e profissionais do sexo como apoiadoras dos ricaços de Wall Street isso foi mostrado intencionalmente no debochado “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese, onde a linha entre documentação e exploração Ă© intencionalmente obscurecida e temos tambĂ©m o filme “A Grande Aposta”, do produtor de “As Golpistas”, Adam McKay, onde o filme acaba puxando bastante ao misturar o lado da tragicomĂ©dia do longa de McKay com ideias mirabolantes para que um grupo de pessoas consigam sobreviver na crise financeira. Entretanto, as mulheres sĂŁo tratadas sempre como brinquedo dos homens e portanto, chega ser uma deliciosa ironia ver que “As Golpistas” se encaixa perfeitamente ao lado dos outros filmes que relatam a crise financeira de forma bastante verdadeira e cruel, pois Ă© com essa astĂșcia que Scafaria evita facilmente a luxĂșria potencial da maioria das produçÔes de Hollywood sobre dançarinas exĂłticas e profissionais do sexo. 

Sim, existe alguma nudez, mas a cĂąmera de Scafaria nĂŁo se interessa em notar isso como algo alĂ©m de um fato da vida das mulheres que fazem esse tipo de trabalho para se sustentarem, e essas vidas sĂŁo o que realmente importa. Embora apenas Ramona (Jennifer Lopez) e Destiny (Constance Wu) sejam desenvolvidas com uma quantidade razoĂĄvel de profundidade, todas as quatro atrizes centrais apresentam uma camaradagem feminina que Ă© contagiosa, mas nunca simplista ou romantizada. Este Ă© um acordo comercial entre colegas que se torna mais complicado na hora da expansĂŁo. HĂĄ amor e apoio Ă  irmandade, mas tambĂ©m hĂĄ uma complexidade e um senso de impermanĂȘncia nessas mulheres poderosas.

PĂŽster oficial do filme “As Golpistas” / Diamond Films

A diretora enquadra essas tensĂ”es com uma mĂŁo hĂĄbil que revela o brilho esperado com uma histĂłria sobre artistas sedutoras. Outro ponto positivo Ă© que aqui Scafaria prefere relatar um filme de assalto que deu errado com uma forte muita influĂȘncia no estilo de narrativa de Soderbergh, onde temos revelaçÔes mais amplas que acabam nĂŁo deixando pontas soltas. O ponto negativo mesmo fica na decaĂ­da de ritmo com um vai e vem na histĂłria para amarrar bem as revelaçÔes. Outra coisa que poderia ter sido melhor Ă© a pouca participação das outras estrelas, Cardi B e Lizzo que conhecem o ramo de strippers poderiam aparecido desenvolvimento do plano de JLo entre o 2Âș e 3Âș ato que Ă© o ponto em que filme tem um grande dĂ©ficit.

No geral, o filme passa uma sensação satisfatĂłria de exploração nos cantos mais obscuros ao vermos este estilo de vida das protagonistas. infelizmente sĂł temos vislumbres finos da vida pessoal de Ramona e Destiny e as personagens de Keke Palmer e Lili Reinhart tambĂ©m sofrem com breves momentos para serem exploradas, o que resta para elas apenas seguirem suas lĂ­deres que estĂŁo fabulosas, principalmente Jennifer Lopez que consegue dominar a tela. Em seu melhor desempenho, a atriz e cantora tem uma presença cativante e quando vemos sua personagem em tela, o longa ganha ares de imponĂȘncia com uma personificação poderosa e digna de ser lembrada nas grandes premiaçÔes.


Trailer:

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