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O ESPIÃO | Sacha Baron Cohen surpreende em drama de espionagem na Netflix (Crítica da Minissérie)

Passou um tempo desde sua estreia, mas consegui acompanhar a minissérie de produção francesa “O Espião”, com Sacha Baron Cohen em papel dramático, onde temos a história verdadeira de um judeu nascido no Egito que é infiltrado pelo Mossad na Síria em 1961.

Esta minissérie é curtinha com seis episódios, com fotos e cenários maravilhosos e fugindo um pouco do estrelato americanizado. A criação é de Gideon Raff, de Prisioneiros de Guerra (Hatufim), que deu base a Homeland, é uma série que tem seus bons momentos com uma atuação sólida  de Baron Cohen no papel principal.

Sacha Baron Cohen em cena da minissérie ‘O Espião’ (Fonte: Netflix/Divulgação)

Na minha opinião a primeira coisa que vai chamar a atenção do espectador é ver Sacha Baron Cohen em um papel dessa natureza. Se mesmo em filmes dramáticos ele sempre fez caricaturas de personagens, é impressionante ver como ele consegue mergulhar em seu personagem a ponto de desaparecer nele, isso depois que alguns vários minutos de aclimatação se passam para que esqueçamos que aquele que está ali na tela não é o Borat, o Brüno ou o Ali G.

E realmente não é, pois o ator, assim como é capaz de assumir de verdade os papeis mais ridículos, ele consegue fazer o seu próprio espião sem demorar para nos convencer que seu personagem tem uma determinação até mesmo perigosa buscando sempre se superar no que faz, sendo assim, ele se arrisca muito mais do o normal e, por isso mesmo, consegue resultados importantíssimos em relativamente pouco tempo.

Cena da minissérie ‘O Espião’ (Fonte: Netflix/Divulgação)

Esse patriotismo e obsessão de seu personagem, que se chama Eli Cohen, é o ponto-chave da minissérie e o que a diferencia das demais do gênero. Os espiões infiltrados são normalmente vistos como pessoas frias (estes são os americanizados que vemos), onde são seguidoras de regras e de detalhes para não colocar seu disfarce em risco, mas nesta minissérie ele é como aquele jovem recruta que faz as maiores loucuras para mostrar o quanto ele é bom.

Além disso, esse lado obsessivo de Eli não é estudado psicologicamente mais do que o minimamente necessário para justificar as ações e reações. Quando a minissérie ensaia em trabalhar mais a perda de personalidade de Eli em razão de seu mergulho profundo na persona árabe do milionário Kamel Amin Thaabet, a obra pega atalhos e encurta a jornada, logo chegando a seu encerramento. Com os roteiros de Raff e de Max Perry privilegiando alguns buracos que levam o protagonista de grande momento a grandes momentos, incluindo a famosa plantação de árvores que aconteceu de verdade e teve o seu propósito anunciado, por mais incrível que possa parecer.

Sacha Baron Cohen em cena da minissérie ‘O Espião’ (Fonte: Netflix/Divulgação)

A cena inicial é justamente Eli Cohen preso, depois de ser torturado, escrevendo uma carta para a esposa sob o aconselhamento de um rabino. Não que uma narrativa linear fosse essencial, mas, ao trabalhar a minissérie dessa maneira, o criador, diretor e roteirista rouba do espectador um elemento de tensão extra sobre o futuro do espião, já que o que vemos no desenrolar dos episódios é, resumidamente, um longo flashback de seis anos em que o vemos ser recrutado e treinado em Israel (com direito à montagem de treinamento no estilo de filmes de ação), mandado para a Argentina via Zurique para começar a construir seu personagem e, depois, para Damasco, seus destino final.

“O Espião” teria um benefício maior se tivesse mais tempo em uma análise psicológica de fazer o melhor possível custe o que custar de Eli Cohen e não somente em seus grandes feitos em território inimigo. Do jeito que a minissérie ficou, ela continua tendo seu valor, claro, até mesmo para revelar ao mundo as ações destemidas de seu protagonista em uma época particularmente tensa no jogo geopolítico da região, mas que na minha opinião não realizou seu verdadeiro potencial narrativo.


Trailer:

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