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TROOP ZERO | Fofuras, descobertas e uma profunda exploração social (Crítica)

Logo no primeiro acampamento som de David Bowie – Rebel Rebel, só por isso você não pode deixar de assistir esse filme que promete fazer você se apaixonar. Exibida no Festival de Sundance, a comédia dirigida por Bert & Bertie (“Dance Camp”) recebeu vários elogios e atingiu 73% de aprovação no Rotten Tomatoes – uma cotação elevada para o gênero.

Um grupo de crianças “fora dos padrões” se une por um motivo peculiar na busca por algo que todos ao seu redor a julgavam. Provavelmente já viram algum filme com uma premissa semelhante, mas poucas vezes com tamanha profundidade.

“Troop Zero” é um tipo de obra que, de repente sem mais nem menos, consegue invadir temas tão complexos com uma sensibilidade revigorante, neste caso é o fazer xixi na cama.  A Amazon fez este longa diante do poder da amizade, mas também sobre luto, empoderamento feminino, bullying, cumplicidade, desigualdade, transformações socioculturais e principalmente sobre as barreiras que muitas mulheres\meninas desde cedo se acostumaram a enfrentar. 

Mckenna Grace, Viola Davis e parte do elenco em cena do filme ‘Troop Zero’ / Amazon Studios

A produção original da Amazon Studios dirigida por Bert & Bertie aquece os nossos corações ao realçar a fofura das suas cativantes personagens sem nunca se desconectar da realidade. Um filme sobre sonhos e os mistérios do espaço que, apesar do adorável viés lúdico, insiste em manter os dois pés em terra firme. Por falar em mistérios do espaço em 1977, a NASA decidiu gravar sons do Planeta Terra e propagá-los através do espaço na expectativa (um tanto simbólica) que houvesse alguma comunicação com uma inteligência alienígena.

O Disco de Ouro da Voyager continha músicas, algumas poucas imagens, sons de animais, da natureza, da nossa rotina e uma mensagem gravada por crianças em 55 línguas diferentes. Com base neste fato, Troop Zero retorna aos anos 1970 para narrar a jornada de Christimas (Mckenna Grace), uma garotinha solitária apaixonada pela vida fora da Terra e influenciada pela sua saudosa mãe, ela acreditava que um dia poderia se comunicar com extraterrestres, caso eles realmente existissem.

Allison Janney e Viola Davis em cena do filme ‘Troop Zero’ / Amazon Studios

Nesta espera por algum sinal, Christmas é pega de surpresa quando descobre que um concurso entre escoteiras definirá as vozes que farão parte do disco que vai viajar para o espaço. Sem um grupo para fazer parte, a entusiasmada garotinha decide, com a ajuda da funcionária do seu compreensivo pai, a resiliente Rayleen (Viola Davis) formar o seu próprio time.

Troop Zero é inteligente ao tratar a sensação de não pertencimento como algo realmente incômodo. O argumento assinado por Lucy Alibar (indicada ao Oscar pelo extraordinário Indomável Sonhadora) mostra perspicácia ao tratar este grupo de carismáticas crianças como uma espécie de alienígenas dentro do seu próprio mundo.

Este longa é sutil ao preencher o arco central com conflitos bem mais densos sem nunca negar a essência infantil do longa, Bert & Bertie conseguem refletir com propriedade sobre obstáculos que acompanham muitos indivíduos ao longo das suas vidas.

Mckenna Grace em cena do filme ‘Troop Zero’ / Amazon Studios

Quando o longa aborda a desigualdade social, refletida com astúcia no colorido cenário, a disfuncionalidade familiar, as barreiras impostas e autoimpostas são cristalinas quando se tenta fazer parte de uma realidade que não era a sua. Christmas se depara não só com o bullying, mas com o desencorajamento, com a falta de oportunidades, com a falta de voz num mundo (ainda) regido por padrões. A falta de uma figura materna gerou uma menina “moleca”. A falta de recursos só ampliava o seu distanciamento do que todos consideravam o “padrão”. Uma perda tão precoce gerou traumas e sequelas que nem a mente mais escapista era capaz de superar.

É um dos filmes que você entra desde o início, no entanto, a fofura e a exploração da imensidão do espaço onde somente as crianças conseguem desbravar com suas mentes livres e sonhadoras.


Trailer:

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