WESTWORLD | A revelação por uma sensibilidade poética - Episodio 07: Passed Pawn (Crítica da 3º Temporada)
O modo como alguém se sente em relação à terceira temporada do Westworld pode ser determinado por vários fatores, mas um dos mais importantes é a forma como o espectador se sente sobre Caleb Nichols (Aaron Paul) e seu lugar no universo expandido de Dolores Abernathy. Um ator como Aaron Paul não costuma ser contratado para trabalhar em meio período e à medida que a terceira temporada avança, Caleb e seu passado misterioso se tornam cada vez mais importantes para a narrativa. William levou Dolores através do parque em busca de aventura. Agora Dolores está liderando Caleb pela América do Norte em busca de sua própria grande aventura.
Ao longo do episódio, fica claro que o plano de Dolores de desestabilizar a humanidade a partir do caminho predefinido pelo Rehoboam está funcionando. Sato e seus gangsteres na abertura fria podem não ser incomodados pela multidão em seu restaurante caro, mas nas ruas é uma história diferente. Isso fica claro desde o momento em que William, Bernard e Ash saem do asilo para o mundo e são recebidos com restos de tumultos, escombros e cadáveres e fugitivos errantes em macacões brancos. O caos não começa imediatamente, mas como qualquer falha em cascata, ela se espalha à medida que aqueles com menos a perder se revezam naqueles com mais a perder e à medida que os que estão menos aptos a sobreviver neste novo mundo são removidos.
Estranhamente, por mais fascinante que seja assistir o caos e derrubar a tecnocracia que é o mundo de Westworld, tudo ali é quase tão eficaz de assistir como a coroa negra de divergência se espalhando pela face branca do relógio de pulso de Serac ao monitorar o sistema. Dolores, Maeve, Bernard e Ash por sua vez não eram nada além de picos levemente mais altos rastreados pelo sistema, mas agora? A escuridão cresce e se espalha, empurrando para fora do círculo para comer o espaço em branco e empurrando para dentro para deformar o anel que representava o controle da sociedade do Rehoboam. O sonho de Serac está morrendo diante de seus olhos, e todos os seus esforços para salvá-lo parecem apenas piorar as coisas. A única coisa mais imprevisível do que um host à solta é a de vários hosts à solta, todos trabalhando com objetivos diferentes.
Maeve pediu ajuda e está recebendo na forma de dois companheiros extras de host recuperados dos servidores da Delos e inseridos em novos corpos. Hector pode não ter sido capaz de sobreviver à ira de Charlotte na semana passada, mas alguns rostos familiares do passado fazem que conhecidos de Westworld retornem e forneçam para a série uma faísca de interesse dobrado. Clementine (Angela Sarafyan) e Hanaryo (Tao Okamoto) aparecem para fazer o trabalho sujo de Charlotte e enfrentam Musashi / Sato (Hiroyuki Sanada) em uma luta brilhante que estabeleceu que o plano de Dolores é tão forte quanto ela. Charlotte é influenciada pela própria vida e maneirismos de Hale e pela morte da família de Hale, o que fazem a personagem decidir se afastar dos planos de Dolores e lançar alguns planos por conta própria, planos em que Sato não tem lugar.
A luta com Clementine lutando contra os capangas humanos de Sato enquanto negociava tiros com o samurai da Yakuza, a bela luta termina na surpresa da presença de Hanaryo (a versão Shogunworld do Armistice), que golpeia brutalmente com sua espada e faz uma pequena e elegante torção de seu corpo sob o braço de Sato para cortá-lo cuidadosamente no meio antes de tomar sua cabeça como troféu (ou como parte de um plano de Charlotte). Essa é uma das duas boas cenas de luta nesta temporada. A revelação cuidadosamente escondida da presença de Hanaryo no bar e o reaparecimento de Clementine é adequadamente chocante e surge aparentemente do nada (embora houvesse vários anfitriões além de Hector sendo revividos na semana passada).
As sequências finais de luta nas quais Dolores (Evan Rachel Wood) e Maeve (Thandie Newton) fazem uma longa e impressionante briga pela câmara de reabilitação abandonada que Serac usou em seu campo de reeducação, não têm nenhum choque real, mas há um senso sustentado para que Dolores e Maeve faça uma perseguição de gato e rato pela instalação abandonada que resulta em várias brigas, com espada contra arma, espada contra faca, faca contra mãos nuas e apenas mãos nuas, auxiliadas por uma nave voadora inteligente controlada por Maeve que soltou um tiro de rifle em Dolores. Ambos servem para forçar a luta a uma área relativamente condensada para obter o máximo impacto, semelhante a uma luta na gaiola.
Helen Shaver faz um trabalho sólido nas cenas de ação, com Evan Rachel Wood e Thandie Newton atuando como artistas de destaque com sequências tensas e golpes com movimentos rápidos, chocantes e brutais. Os anfitriões são muito mais hábeis em lutar do que os humanos, graças à sua força e durabilidade impressionante e isso coloca a ponto de que a única coisa que pode desacelerar Dolores é outro host como Maeve (ou possivelmente Charlotte, que parece estar muito brava por ter sua família morta). Claro, isso pressupõe que Dolores ainda esteja envolvida em seus próprios planos após os momentos finais deste episódio.
O foco principal de Shaver não está nas sequências de ação, mas em Caleb lentamente recuperando suas memórias. Esse poço é atingido repetidamente com muitos flashbacks de Caleb na cadeira, sofrendo com a mesma terapia que William. No entanto, nesse lugar ele começa a se afastar da história que recebeu ao ver que sua unidade foi realmente exterminada, mas não é isso que ele tem feito nos anos desde a guerra, ele recupera seu período pós-guerra trabalhando ao lado de Francis (Kid Cudi) como um homem manipulado para Serac e o Rehoboam.
O roteiro de Gina Atwater fornece um pouco mais de detalhe a cada vez que Caleb se recupera e enquanto Solomon conta mais uma história sobre sua criação, seu papel no plano de Serac e Rehoboam que controlam valores extremos e os usam para promover o bem maior através de coisas como o aplicativo criminal (embora um aplicativo criminal deva ser aprovado por alguém com poder real para existir, mesmo em uma tecnocracia) e usando os extremos contra outros discrepantes, uma vez que tenham sobrevivido à sua utilidade ou não tenham se adaptado à visão de Serac de um mundo novo e mais organizado. É insidioso usar problemas para cuidar de outros problemas e acaba em uma sequência bastante tensa na qual Caleb se lembra por meio de flashback quem é o responsável por matar seu parceiro.
Dolores como anfitriã nunca seria o rosto de uma revolução humana. Ela pode fomentar a revolução, mas ela está nisso pelos anfitriões, não pelo povo. Liberar a humanidade rasgando o véu da civilidade é o meio para um fim, o fim é o fim da raça humana. Caleb, como Teddy, Angela e Clementine eram apenas uma ferramenta e nem todos estão aptos para chegarem ao Vale do Além no novo mundo de Dolores. Mesmo ela podendo não ter sobrevivido para ver o fim do mundo humano e o alvorecer da era dos exércitos, embora tenha provado ser capaz de derrotar até a morte no passado. Tudo fica para o capitulo final ao sabermos que Dolores ainda não terminou seu papel nessa deliciosa rebelião das maquinas contra os humanos.
Confira a prévia do episódio 08 (season finale), intitulado “Crisis Theory” (leia descrição do episódio, clicando aqui). Lembrando que Westworld é transmitida todo domingo, às 22h, na HBO:
Nenhum comentário