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FLEABAG | A mulher moderna em uma obra-prima engraçada e comovente (Crítica da série)

Fleabag, adaptação da premiada peça teatral de Phoebe Waller-Bridge com o mesmo nome acabou virando uma obra-prima moderna na TV pelo streaming Amazon Prime Video. Interpretada pela própria Waller-Bridge, Fleabag tem uma personalidade eletrizante. A personagem é excitante, atrevida, sagaz, gananciosa, pervertida, egoísta, apática, cínica, depravada, deprimida e moralmente falida, que nem consegue se chamar de feminista (isso segundo suas próprias palavras na série!).

Ela vive lutando para administrar um restaurante de café no centro de Londres e ainda lida com o peso das emoções após a morte inesperada de sua melhor amiga e parceira de negócios Boo (Jenny Rainsford). Enquanto navega em relacionamentos complicados dentro de sua família, somos apresentados com a irmã de Fleabag, Claire (Sian Clifford), uma advogada bem-sucedida, mas reprimida, casada com o inadequado Martin (Brett Gelman). Seu pai (Bill Paterson), um viúvo, é uma presença passiva na vida de suas filhas e é dominado por sua namorada e futura madrasta (Olivia Colman). 

Personagens principais da série ‘Fleabag’ / Amazon Studios

A primeira temporada é fortemente marcada pela dor. Fleabag é uma mulher cuja vida está desmoronando, então ela preenche o vazio dentro dela com piadas e muito sexo. Ela é assombrada pela perda de sua amiga e não consegue encontrar ou aceitar sistemas de apoio adequados, em vez disso, fala diretamente para a câmera em aparições rápidas para zombar das pessoas aparentemente patéticas ou ridículas ao seu redor. Sua franqueza a coloca em problemas mais de uma vez, pois ela é rápida em provocar e distrair a si mesma e aos outros de seus próprios problemas. As coisas vêm à tona no episódio final, concluindo com uma série devastadora de relacionamentos rompidos. 

Mesmo sendo morna e explorando mais o lado sagaz da personagem, Waller-Bridge consegue em pouco tempo ambientar o espectador no jeito de ser e viver de Fleabag. A personagem vive lutando contra dilemas e enfrentando fantasmas nos quais acaba fortalecendo-a em tentar seguir em frente na primeira temporada.

Fleabag prova esses traços várias vezes, mas sua postura, charme e sagacidade sombria a tornam uma protagonista totalmente atraente. No fundo, a história de Fleabag é tão magnética porque é inteiramente dela, incluindo todas as suas decisões terríveis e segredos obscuros. A autonomia distorcida de Fleabag é refrescante, poderosa e inerentemente feminista. Raramente é permitido as mulheres exibir um comportamento tão obsceno, agressivo e independente, tanto na vida real e na televisão.

Cena da série ‘Fleabag’ / Amazon Studios

Outra distinção de Fleabag é o uso liberal da quebra da quarta parede. Um relacionamento genuíno é estabelecido entre Fleabag e a câmera, tornando uma proximidade natural com o público por meio de partes humorísticas e do raciocínio rápido da personagem. Vivemos pelas travessuras engraçadas de Fleabag, mas ficamos por causa do remorso e a intimidade entre Fleabag e a câmera que a faz parecer que ela seja uma personagem redimível. Na realidade, a câmera serve simplesmente como um mecanismo de defesa, uma estratégia para Fleabag manipular sua realidade a fim de se defender contra sua ansiedade e vergonha profunda.

Já na segunda temporada de Fleabag, que se passa um ano após o primeiro do show, a personagem acaba se transformando e nesta temporada final ela tem sua vida mais humilde e seu café está prosperando. No entanto, Fleabag ainda está lutando contra o vazio e a perda. Ela encontra uma saída quando encontra um Padre incomum e muito quente (Andrew Scott), que oferece um ouvido atento e uma grande compreensão. 

Fleabag foi inicialmente concebida para ser em uma única temporada. Mas com a introdução do Padre, que acaba sendo o único personagem que nota as aparições de Fleabag, para sua surpresa, temos um novo elemento que acaba ganhando uma presença forte na segunda temporada e assim o Padre acaba tendo um papel-chave para oficializar o casamento da madrasta e do pai de Fleabag. A segunda temporada joga com o catolicismo na dinâmica entre Fleabag e o Padre, que se encontram perigosamente atraídos um pelo outro, mas separados pelos votos de celibato do Padre

Cena da série ‘Fleabag’ / Amazon Studios

Enquanto a primeira temporada culmina em uma avalanche de emoções, a segunda temporada se infiltra sob sua pele, lentamente arrancando seu coração entre as risadas. Waller-Bridge explora Fleabag de um ângulo diferente, o amor inatingível. Semelhante ao relacionamento de Fleabag com Claire, a imperfeição é um aspecto central de seu relacionamento com o Padre. Ironicamente, é necessário que seu relacionamento se desenvolva ainda mais. 

O elenco de apoio completa a série maravilhosamente, com forte atuação e escrita trazendo à vida algumas das personalidades mais distintas que já enfeitaram a tela. Olivia Colman é sublime como a madrinha passivo-agressiva de Fleabag e o encontro breve com uma mulher sábia e mais velha (Kristin Scott Thomas), que lhe dá alguns conselhos sobre a vida são marcados como pontos positivos sobre a visão de mulheres mais velhas que gravemente são imperfeitas e expõe suas dores de estarem profundamente assustadas com as expectativas da sociedade.

No final, Fleabag prova ser uma visão rara da mente de uma mulher preocupada com questões modernas: tabus sexuais, pagar aluguel, dirigir um negócio e que luta para se definir em meio à tristeza, pecado e dor. Uma série curta e viciante, que irá fazer você rir e quem sabe até chorar com a vida de uma personagem feminina moderna, que sofre e luta de forma corajosa com os problemas da vida.


Trailer:

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