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NOVA ORDEM | Os dois lados de uma revolução cruel e moderna (Crítica) - 44° Mostra SP

O conflito de classes no cinema não é novidade. Embora depois que Parasita venceu o Oscar de melhor filme, a temática do premiado longa se tornou um fenômeno global e talvez nunca tenha havido um público mais receptivo para filmes que retratam uma quebra de contrastes sociais. 

Partindo dessa ideia, o escritor e diretor mexicano Michel Franco nos apresenta um tenso e distópico drama de 88 minutos sobre um país jogado em desordem em meio a uma convulsão social. Franco não tem a maestria e o talento de Bong Joon Ho para conduzir uma conspiração de forma inteligente, mas o mexicano compensa com cenas mais cruéis de um colapso social, tornando ainda mais potente o abalo devido ao realismo que Franco coloca na tela.

Cena do filme Nova Ordem (New Order/NuevoOrden) – Foto: Divulgação

O filme fala sobre o conflito de classes no México moderno e mostra como os ricos ficam mais ricos e os pobres mais miseráveis ​​e desesperados, chegando um ponto de ruptura que pode destruir tudo em seu caminho, e o que começa como um pedido de justiça termina como uma onda de vingança. 

Mas por mais que se dirija às classes sociais, Nova Ordem é realmente um filme sobre a lenta morte da compaixão em um mundo que é tão indiferente para cultivar sentimentos pelos fracos, tão zangado para parar por um segundo e considerar as consequências, tão cego pelo ódio, superioridade e alienação para considerar tudo menos os próprios interesses. Logo de cara percebemos que é um grande filme por ir muito além de quem é culpado, levando seu público a examinar o que se tornou de nós como seres humanos enquanto vemos pequenas explosões de compaixão desaparecendo, abrindo espaço para uma ‘Nova Ordem’, um novo normal em um mundo que não está interessado em eliminar fronteiras ou derrubar pontes. 

Cena do filme Nova Ordem (New Order/NuevoOrden) – Foto: Divulgação

O filme começa com um luxuoso casamento realizado em um dos bairros de alta sociedade do México. Não muito longe, os protestos estão começando a tomar forma e ganhar força e aqueles que celebram simplesmente não se incomodam com as tensões crescentes, desde que permaneçam fora de seus muros. Mas as coisas logo tomam um rumo mais sangrento, com os manifestantes invadindo a mansão e transformando os convidados em reféns. No meio de todo o caos temos assassinatos e pânico, a noiva, uma jovem de vinte e poucos anos que ainda não perdeu a capacidade de desenvolver compaixão pelos outros, arrisca tudo para ir salvar uma das empregadas domésticas que está em condições perigosas e precisa ser levada ao hospital antes que seja tarde demais. Enquanto o país mergulha no caos extremo, a menina é feita refém pelos rebeldes e um pesadelo se inicia. 

Cena do filme Nova Ordem (New Order/NuevoOrden) – Foto: Divulgação

O que torna o longa diferente dos dramas sociais típicos é sua recusa em tomar partido e transformar seu conflito em algum tipo de declaração grandiosa sobre trágicas injustiças sociais. Com um ritmo de tirar o fôlego e cenários de ação espetacularmente coreografados, o filme nos convida a observar, contemplar e olhar além do conflito, acompanhando o destino de três personagens que não poderiam ser mais diferentes em termos de status. Enquanto o mundo ao seu redor desmorona, e nenhum fim parece estar à vista, apesar dos toques de recolher rígidos estabelecidos pelas autoridades locais, os personagens centrais do filme lutam para permanecer vivos em um ecossistema que simplesmente não reconhece suas intenções. 

No geral o filme é uma experiência angustiante e extraordinária fazendo do longa uma análise importante do mundo em que vivemos hoje. Com grande elenco, a produção é poderosa e incrivelmente bem feita e tem grandes chances na temporada de premiações justamente por ser um filme real em um tempo brutal.

*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/


Trailer:

https://youtu.be/juZmY8Htsng

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