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O HOMEM DO NORTE | Crítica do filme




Conhecido por trabalhos autorais que misturam elementos intrigantes, o diretor Robert Eggers (A Bruxa, O Farol) vem conquistando aclamação com seus projetos e a popularidade do cineasta vem crescendo com os fãs que sempre esperam os seus futuros filmes. Por conta disso, o lançamento do seu terceiro longa, O Homem do Norte (The Northman), era bastante aguardado por explorar os mitos dos vikings em um épico histórico repleto de estrelas e cenas ação.

O Homem do Norte inicialmente pode chocar por ter uma narrativa simplista, no entanto, essa simplicidade é algo que se torna mestre em seu ofício de emergir o espectador em uma história de vingança que se complementa com uma experiência visual e auditiva épica operando no mesmo comprimento de onda da raiva primitiva que seu protagonista. Robert Eggers e Sjón não contam uma história de glória de um guerreiro, longe disso, o roteiro nos apresenta uma história de vingança envolvendo vikings em sua forma mais animalesca e brutal, ao lado de uma infinidade de misticismo fascinante e maravilhosamente extraída de vários cantos profundamente pesquisados ​​da mitologia nórdica.

Jogando com a hipermasculinidade, Eggers estampa de forma consciente de quão absurdas são as crenças dos seus personagens e uma das primeiras coisas que o Rei Aurvandil, o rei Corvo (Ethan Hawke) diz a seu jovem filho, o príncipe Amleth, é que ele se recusa a morrer de doenças e que se ele morrer em batalha, a vida do menino será dedicada a vingar essa perda.

Willem Dafoe faz uma participação gloriosa como um servo bobo da corte, este enredo é interessante e foi jogado diretamente com qualidades humorísticas que se contrapõe em um ritual viking que é fisicamente intenso e a partir daí temos a quebra de paradigma com um corte para o rei sendo instantaneamente assassinado. Essa troca brusca mostra como se Robert Eggers estivesse piscando para o público sobre a tolice de tais credos masculinos e nos revela toda versatilidade de enredo que o cineasta consegue transmitir. Fora ainda que a história é dividida em capítulos e avança para um Amleth adulto, que é interpretado de forma brilhante por Alexander Skarsgård, tendo abandonado sua terra para se juntar a um bando de assassinos e ladrões que se comportam mais como ursos e lobos do que humanos.

Pode-se dizer que Amleth está fugindo de seu destino (como aponta uma vidente assustadora, que é interpreta por Björk) e eventualmente ele acaba voltando para o que ele prometeu, vingar a morte do seu pai. O protagonista acaba se escravizando para chegar à propriedade de seu tio Fjölnir, o Sem Irmão (interpretado de forma exuberante por Claes Bang, sendo um dos seus primeiros grandes papéis em Hollywood na sua carreira), que sequestrou a mãe de Amleth, a rainha Gudrún (interpretada de forma enigmática por Nicole Kidman) que se tornou a sua esposa.

Nessa preparação para se vingar, Amleth também se apaixona por Olga (interpretada de forma envolvente por Anya Taylor-Joy), a personagem não é só um interesse amoroso, ela acaba sendo o elo entre a segunda peça que Amleth precisa para sua vingança e também serve como manobra para que Robert Eggers use esse breve tempo de calmaria do protagonista para explorar a vida viking com a criação de ovelhas e também para mostrar um esporte mortal que deixa Amleth entregando uma série de cabeçadas viscerais, apenas no caso de que alguém precise de um lembrete de que a violência aqui é sádica e bestial. Há também uma busca por uma espada especial ligada ao destino de Amleth que contribui para uma aventura paralela eficaz e brevemente emocionante, expandindo-se para mais mitos.

Não demora muito para que Amleth acabe enfrentando decisões sérias sobre parentesco e vingança, chegando a uma conclusão ardente. E ao longo de cada cena, o filme é carregado por uma trilha sonora propulsiva e cheia de adrenalina de Robin Carolan e Sebastian Gainsborough, que dá um peso dramático a quase todas as interações. A trilha sonora e o design de som são absolutamente hipnotizantes, assim como a brutalidade capturada pelo diretor de fotografia Jarin Blaschke (ele usa suas lentes de forma primorosa em um dos confrontos finais de luta de espadas, aqui foi um dos confrontos mais atmosféricos no qual eu já vi).

É seguro dizer que O Homem do Norte oferece um espetáculo que atravessa a linha entre o estranho e fascinante com uma história que se estabelece em um estudo relativamente sistemático de ciclos de violência transmitidos de homens para filhos em idades inquietantes e a necessidade de quebrar essa corrente. Há uma sensação de que Robert Eggers poderia ter feito algo um pouco mais original com o material se o grande estúdio que distribui o filme não tivesse se intrometido para tentar deixar o filme mais comercial e com pouca brutalidade, o cineasta reclamou publicamente sobre essa interferência, mas do jeito que está, Eggers ainda conseguiu transmitir sua essência de forma magistral e isso é elevado pela habilidade de um cineasta que explora cada minuto para fazer arte e isso fica evidente com Amleth sendo o desempenho da vida para Alexander Skarsgård. O ator equilibra o primitivo com um lado mais suave e recém-descoberto de um desejo de cortar os laços que unem tanto quanto a cabeça do homem que tirou tudo dele quando criança.

No geral, O Homem do Norte (The Northman) é um conto emocionante, implacável e autenticamente bárbaro de raiva que nos mostra que longe de toda megalomania dos blockbusters, existe um cineasta autêntico que criou uma película bela visualmente, todo o trabalho artístico na produção é de apreciação e faz com que a gente fique na espera pelos futuros projetos de Robert Eggers.

Nota: 4,5/5
Trailer:


Sinopse:

Do visionário diretor Robert Eggers, O Homem do Norte é um épico cheio de ação que segue o jovem príncipe Amleth que está prestes a se tornar um homem quando seu tio assassina seu pai e sequestra sua mãe. Duas décadas depois, o jovem é agora um viking com a missão de salvar a mãe, matar o tio e vingar seu pai.

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