Novidades

WASP NETWORK | Lento, com pouco foco e reviravolta sem surpresa (Crítica)

Baseado no livro“Os Últimos Soldados da Guerra Fria, do escritor brasileiro Fernando MoraisWasp Network conta a verdadeira história dos Cinco Cubanos, um grupo de espiões  enviado nos anos 90 pelo serviço secreto de Havana para a Flórida com o dever de monitorar os refugiados do regime de Castro que solicitaram asilo político nos Estados Unidos e, assim, evitar qualquer desestabilização do clima político em Cuba pela oposição e pelos grupos subversivos que existem no país.

Ao se apresentarem como requerentes de asilo e traidores aos olhos da sociedade cubana e com suas famílias deixadas para trás, esses espiões não apenas arriscaram suas vidas nas artes da espionagem internacional, mas também experimentaram um ambiente econômico e cultural completamente diferente. Os dilemas entre a impotência de viver em seu país de nascimento e o dever patriótico e a prosperidade de um novo modo de vida e a cooperação com o lado oposto são constantemente enfatizados pelo diretor, caindo infelizmente em momentos de lentidão em uma narrativa absurdamente desconexa.

(Édgar Ramírez em cena do filme Wasp Network / RT Features)

Olivier Assayas (Personal Shopper, Acima das Nuvens) é sem dúvida o diretor francês mais versátil e cosmopolita do momento, e uma visão de seus filmes confirma isso, já que ele vem mudando de gêneros, países e idiomas por muitas décadas, muitas momentos no mesmo filme, com o conforto característico de sua visão e sem nunca evitar a nitidez do olhar de seu diretor ou se perder no contexto cultural de cada um de seus filmes. Wasp Network é outro desses desafios, mas com uma pitada que combina gêneros e nacionalidades, porém, com intenções comerciais e convencionais que não atingiram o seu patamar desejado.

Assayas dirige com ritmo frenético e com tanta densidade narrativa que, às vezes, seu filme parece literalmente preso por nomes, locais e eventos. Talvez o formato de um filme, mesmo com duas horas de duração, possa não ter sido o veículo narrativo apropriado para uma história que poderia ser facilmente estendida em uma minissérie e, possivelmente, teríamos uma melhor compreensão desse bombardeio de informações.

Duas áreas do filme apresentam grandes problemas e a primeiro é o enredo. A história é relativamente complexa e infelizmente não é bem escrita e trabalhada. Wasp Network não possui estrutura e desenvolvimento, certos eventos importantes parecem aleatórios e esse sentimento de desordem geral é reforçado pela edição, provavelmente uma das piores visões do cinema em muitos anos. A cronologia também não é clara, os eventos não são importantes e alguns papéis parecem desnecessários quando na realidade não eram (o personagem de Leonardo Sbaraglia parece ser interessante, mas acaba sendo desperdiçado). Fora ainda que o filme parece desestruturado e, às vezes, as cenas aleatórias acabam não fazendo sentido.

Por sorte, no meio disso tudo temos algo bom e isso envolve um brasileiro. O personagem Juan Pablo Roque, de Wagner Moura, cria uma parceria fascinante com Ana Margarita Martinez, da belíssima cubana Ana De Armas, com sua vida de excessos e fama. Roque é estabelecido como uma celebridade menor desde o início em Wasp Network, depois de fazer a transição para os Estados Unidos, vemos de forma interessante o estilo de vida que ele e Martinez compartilham quando são pressionados contra a vida mais simples do personagem de Édgar Ramirez. Eles fazem muitas festas, acabam tendo um casamento exagerado, e no final disso tudo eles acabam terminando e o personagem do brasileiro acaba desistindo da empreitada e retorna para Cuba. Aqui o pequeno up que o longa acaba tendo retorna para a sua degradante lentidão.

(Os atores Leonardo Sbaraglia, Édgar Ramírez, Wagner Moura e Ana De Armas em cena do filme Wasp Network / RT Features)

Uma pena, pois além de Moura e Armas, o elenco é bom e eles deixam o filme flutuar por sua duração. Penélope Cruz, Édgar Ramírez e Gael García Bernal são muito talentosos e notáveis ​​na tela e seus personagens são até credíveis. Isso porque o filme chega em uma sequência de narração para explicar um ponto específico da história e isso acaba sendo uma reviravolta problemática, pois quando chegamos nesse momento, tudo ainda continua sem sentido e até sem surpresa nenhuma.

Mesmo baseado em uma história real fascinante, e não para uma profunda reflexão sobre uma das resistências mais vigorosas de um dos últimos bastiões do comunismo em nível internacional, Wasp Network poderá ter alguma admiração com o nome de seu diretor e seu elenco extraordinário do que pelo seu valor cinematográfico em contar uma boa história, uma pena, pois o material é bom e foi inteiramente desperdiçado.


Vídeo:


Gostou da matéria? Então dá aquela força, comenta e compartilha com seus amigos, curta, siga e fique ligado no Protocolo XP nas redes sociais.

Protocolo XP no Facebook / Instagram Twitter

Nenhum comentário