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INSTINTO | Carice Van Houten em um filme instintivamente manipulador (Crítica)

Todo ano o cinema europeu nos emplaca bons filmes. É interessante acompanhar este mercado que produz longas peculiares e com histórias magníficas nos quais a gente acaba se interessando por essas produções quando a gente acaba sabendo que algum ator que conhecemos está no filme ou que a película está na corrida das premiações (o filme representa a Holanda na categoria Melhor Filme Internacional/Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2020).

Por isso que é muito importante ter a super sexy symbol Carice van Houten (a Melisandre de Game of Thrones) atuando e coproduzindo esse longa que inaugura um novo relacionamento com a sua parceira do cinema e TV Halina Reijns, uma atriz que se tornou diretora cuja a colaboração com van Houten se tem desde o início dos anos 2000. No papel, esta é uma equipe dos sonhos pronta para atuar em todo o continente europeu com duas atrizes veteranas iniciando uma nova fase em suas carreiras, usando fundos estatais da Holanda para fazer uma obra de arte que não poderia ter sido criada em nenhum outro lugar.

Instinto é um filme corajoso e influenciado pelo realismo social. Van Houten interpreta Nicoline, uma psicóloga do sistema carcerário da Holanda que trabalha na reabilitação de casos difíceis para que possam ser liberados na sociedade. O filme começa com uma falsificação meio brilhante, onde você vê o esquadrão de choque prestes a estourar a porta de uma cela segurando Nicoline, onde ela está posicionada como uma maníaca pronta para arrancar alguns rostos. 

Eles a atacam com força, e ela luta com os guardas tentando derrubar o maior número possível. Depois que ela é apreendida à força e transferida para uma cela segura, é revelado que este foi um exercício de treinamento. É uma ótima narrativa, revelando economicamente que ela é uma veterana forte e experiente do sistema penal, pronta para qualquer coisa que possa lhe atingir.

Carice van Houten em cena do filme ‘Instinto’ / A2 Filmes

Nicoline é uma atiradora de elite aos olhos de seus colegas, responsáveis ​​por casos que tentam livrar algumas almas pobres de suas compulsões e más decisões, para que possam salvar uma vida normal. Ela tem amigos entre os funcionários, mas é evidente que ninguém realmente a conhece intimamente. Quando vai para casa, um apartamento decorado generosamente, Nicoline encontra uma mulher de meia-idade em seu apartamento, a cena em questão acaba confundindo o espectador até que ela se mostre como sua mãe. 

A personagem principal é capaz de relaxar no abraço reconfortante de sua mãe, encontrando conforto durante o sono até que ela acorda no meio da noite e encontra a mãe dando-lhe carinho, completamente nua. Há um momento de reconhecimento sobre o quão estranho isso é, mas a edição deixa passar rapidamente, como se não nos sobrecarregasse com muita psicologia ainda.

Agora que estamos familiarizados o suficiente com nossa protagonista, Reijns e a roteirista Esther Gerritsen lançam o seu oposto, Idris, vivido por Marwan Kenzari (o Jafar do live-action de Aladin). Um homem holandês (aparência marroquina) que foi condenado por estupro. Ele é o que chamamos de “agressor sexual”, que por acaso é a especialidade profissional de Nicoline. Idris é um daqueles casos difíceis com os quais está treinado, um operador esperto, com toneladas de carisma sexual e inteligência para usá-la. Ele está lá há alguns anos, depois de perpetrar um ataque brutal em sua juventude e agora ele tem que se comportar por mais algumas semanas para voltar a sua casa.

Mas Nicoline vê um jogador em ação e o entrevista já desconfiando de que ele está mentindo e desempenhando o papel de um homem penitente que expia suas transgressões. A maioria dos colegas de trabalho de Nicoline não percebem este lado manipulador de Idris e aconselham que ele esteja pronto para ser liberado de sua pena o mais breve possível.

Carice van Houten e Marwan Kenzari em cena do filme ‘Instinto’ / A2 Filmes

O filme se torna um tête-à-tête entre os dois, quando Idris começa a se abrir com Nicoline que está tentando decifrá-lo para encontrar o demônio lá dentro, e ele está tentando separá-la de psicóloga para ser a presa indefesa dele. Por mais que ela sinta repulsa pelo crime dele e pelo tipo de homem que ele é, há uma centelha sexual.

Em uma cena em que ela tem um encontro com uma colega de trabalho, Nicoline inicia o sexo com submissão dramática, implorando para ser dominada por um cara claramente desconfortável com o pedido. O público foi apresentado à sua natureza interior, então o palco está pronto para assistir Idris trabalhar com ela de maneiras que ela possa estar preparada para se defender. 

Nicoline faz perguntas sondadoras em sessões de terapia e Idris coloca um muro de alguns cumprimentos realizados com uma quantidade razoável de contra problemas, conduzindo de forma manipuladora o seu próprio interrogatório. Ele pode sentir o cheiro de sexo nela, aquela coisa de química entre os dois que pode se encaixar como um relógio. Idris pode ganhar tanto sua liberdade quanto uma conquista sexual, se conseguir resistir à resistência de Nicoline.

O filme demora para engrenar o jogo de intrigas entre os dois, o ápice de manipulação, romance e abuso é forte, mas tem momentos de monotonia, o que torna um ponto negativo. Mesmo assim o longa acerta no elenco e na história, outro destaque positivo está em colocar uma equipe de produção totalmente feminina, o que evita o olhar masculino. 

Carice van Houten e Marwan Kenzari em cena do filme ‘Instinto’ / A2 Filmes

A câmera pode pegar Carice van Houten em situações sexuais, mas ela nunca é um objeto de luxúria. Se houver, quase certamente seria com Marwan Kenzari. Você pode entender como Nicoline pode se sentir fisicamente atraída por um cara bem-construído como ele, mas o passo a mais é como ela pode dar um bom julgamento por cima do ombro por uma emoção elétrica. Mas essa pode ser a diferença entre observar o sexo nessa situação e a maneira pela qual a cineasta pretende que ele apareça para o público.

Independentemente do que eu possa considerar implausível, a sequência final de Idris aparecendo no apartamento de Nicoline em sua licença não acompanhada é devastadora. Isto é o que a mira dele tem construído, um cerco sexual que foi achatando sua resistência, superando suas objeções. Ele se força nela, acreditando verdadeiramente que ela estava “pedindo”, enquanto ela soluça e implora para que ele pare.  O mais interessante é mensagem de contraponto que a cena passa, vimos a personagem com seu pedido de domínio no início da história, então como devemos saber concretamente se isso não faz parte de sua fantasia? Este é outro componente arrebatador do filme, que assume um significado diferente com uma diretora e a própria van Houten dirigindo a história como produtora.

Carice van Houten e Marwan Kenzari em cena do filme ‘Instinto’ / A2 Filmes

Reijns está examinando a sexualidade de maneira franca, usando-a como estilete e como mal através do caráter complexo de Nicoline. É um exame bem-sucedido, devido à quão vigorosa Carice van Houten está no filme. Ela é uma atriz fantástica que vende quase qualquer cenário com seu carisma e você sabe o que está recebendo de uma atriz deste calibre, um bom filme.


Trailer:

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