Novidades

MALMKROG | Um debate lentamente ambicioso (Crítica) - 44° Mostra SP

Se um filme como O Irlandês ou Era Uma Vez em Hollywood  pode ser taxado por alguns como desnecessariamente longo, eu estou louco para saber o que algumas as pessoas dirão sobre Malmkrog, filme de três horas e meia do diretor Cristi Puiu. No longa acompanhamos um grupo de aristocratas russos que se reúnem em uma grande propriedade rural para filosofar durante um longo e luxuoso jantar. O filme é uma adaptação do livro Three Conversations, do filósofo russo Vladimir Solovyov e com 200 minutos a produção raramente deixa os confins do ambiente decadente, na verdade a maioria das cenas ocorre em apenas três quartos. O diálogo soa como se tivesse sido lido literalmente e a câmera quase não se move. 

Cena do filme Malmkrog – Foto: Divulgação

O que poderá para alguns espectadores se tornar um filme maçante, mas a graça em Malmkrog em acompanhar como Cristi Puiu divide em cinco capítulos que se interligam de forma linear neste interessante filme. Entre esses capítulos, o primeiro leva o nome do proprietário da casa, o proprietário Nikolai (Frédéric Schulz-Richard), e os capitulo seguintes acaba tendo o nome dos outros quatro convidados: o arrogante homenageado Edoard (Ugo Broussot), a apaixonada Ingrida (Diana Sakalauskaité), a sofredora Olga (Marina Palii) e Madelaine (Agathe Bosch), esposa de um general maldoso que vemos de passagem. 

A grande parte do filme funciona como uma dialética hipnótica, embora francamente monótona (ruminações sobre Cristo, honra, estávamos apenas cumprindo ordens, guerra, amor etc. que se tornam mais acalorados com o passar do tempo) e que certamente alienará qualquer pessoa sem um menor entendimento em filosofia ou em um vocabulário acadêmico. Por restrições orçamentárias ou de projeto, Puiu se inclina fortemente para os prazeres fundamentais e cerebrais do cinema lento, cortes limitados, tomadas longas e aquela estranha sensação da Síndrome de Estocolmo que se infiltra depois de sentar com um bando de estranhos por tanto tempo. 

Cena do filme Malmkrog – Foto: Divulgação

Pode demorar horas, mas o filme ao mesmo tempo oferece o que acredita ser um enredo importante com longa trabalhando para mostrar o ritmo desta vida, com todos os seus costumes e rituais o que torna a produção uma maravilha de assistir enquanto o dia se transforma em noite nos arredores deslumbrantes e os convidados se acostumando com a companhia uns dos outros a cada prato e taça de vinho que passam. Mesmo que a conversa avance (a dedicação do elenco, devemos notar, é uma maravilha), o ritmo permite que o espectador, em todo o mundo, examine os intrincados detalhes do período que são impostos pelo diretor. 

Muito disso é simplesmente fabuloso com todos gestos, fantasias e luz de velas, mas o cineasta também parece ter feito o possível para mostrar os costumes tácitos dos servos de Nickolai, que operam em quase silêncio enquanto servem prato após prato para ele e os convidados. O contraste entre o mundanismo pomposo dos convidados do jantar e o tratamento que dispensam os menos privilegiados não passa despercebido e muitas vezes é terrivelmente enfurecedor, o que esses momentos de não muito agrado. Mesmo intencionalmente, Malmkrog tem tanto elitismo quanto os privilegiados que retrata e esse pode ser o ponto de ruptura que o longo quer impor.

Cena do filme Malmkrog – Foto: Divulgação

No geral, Puiu oferece uma série de chamados surrealistas para o espectador ao longo de seu filme ousadamente intransigente e o colapso dos personagens é conflitante com o estrondo da guerra que se aproxima, o que torna revelador os mantras dos personagens, que são privilegiados em um período que era normal as injustiças sociais.

*Filme assistido na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, para mais detalhes, acesse: https://44.mostra.org/


Trailer:

Nenhum comentário